Mais uma versão do conto "o negrinho do pastoreio."


            Em uma estância do interior morava um fazendeiro muito sério e individualista, que cuidava dos seus negócios e administrava tudo sozinho, desde a morte da esposa. O mesmo mora com seu filho, e possui vários empregados que  realizam as tarefas de casa e os demais afazeres da fazenda.
            O único dos empregados que na visão do estancieiro era “digno” de ser olhado nos olhos era o negrinho – menino franzino, baixinho, pequeno e negro que não tinha nome nem família. Isso fez com que o estancieiro se apegasse mais ao menino e incumbiu-o de uma tarefa que nem mesmo seu filho podia fazer, o negrinho seria o único autorizado a montar o seu cavalo.
            O filho do estancieiro não gostava do fato do negrinho ser tratado diferente dos outros escravos, muito menos do fato de seu pai ter confiado a ele sua preciosa montaria.
            Passavam-se os dias e o filho do estancieiro maltratava o Negrinho, sempre com a intenção de fazê-lo se sentir inferior e infeliz. Contudo o Negrinho nunca deixava de fazer nenhuma tarefa e sempre que terminava seus deveres ia correndo para junto do cavalo do estancieiro e lá ficava até o anoitecer, quando voltava para a senzala.
            Após uma semana o cavalo havia se tornado o primeiro e único amigo do Negrinho. Certo dia o estancieiro chegou bufando em casa e aos murros se jogou na cadeira que ficava na varanda. Negrinho pôs-se a observá-lo, algo não estava certo.
            Várias horas depois, o dono da estância se levanta e caminha até Negrinho e diz:
- Tu vai montar nesse cavalo amanhã e vai laçar o touro pelos chifres, se tu não conseguires vou mandar te açoitarem e se tu conseguires, tu deixas de ser escravo e vem morar comigo.
            O Negrinho, chocado passa o resto do dia treinando laço, mas percebe que não leva jeito para a coisa. Já cansado, porém não conformado, se dá por vencido, volta para a senzala.
            O menino, filho do fazendeiro, ouvira o pai conversando com Negrinho e para evitar que o escravo se tornasse seu irmão, planejou um jeito de evitar completamente que Negrinho ganhasse a competição. No meio da noite, após o estancieiro ter dormido, ele se levantou e foi até o local onde estavam adormecidos os escravos, após conferir se todos estavam dormindo, carregou Negrinho para fora, amarrou-o e deu-lhe uma surra com o relho de seu pai.
            Negrinho estava tão cansado que mal conseguia contestar, quanto menos, se defender. Como se não bastasse, o filho do estancieiro assustou o cavalo, que desapareceu na imensidão da noite.
            Na manhã seguinte, o estancieiro foi ver o cavalo, que tinha desaparecido. Esbravejando, chamou negrinho e exigiu explicações sobre o paradeiro do cavalo. Como Negrinho era muito bondoso e piedoso disse que havia sido descuido de sua parte e que não havia prendido o cavalo.
            O dono da estancia mandou avisar que seu escravo não competiria mais e mandou açoitarem Negrinho.
            Naquela noite Negrinho foi dormir cedo e o filho do estancieiro aproveitou a oportunidade e jogou Negrinho dentro do formigueiro atiçado.
            O estancieiro viu o cadáver de Negrinho e concluiu que o mesmo havia se suicidado, cansado da vida que levava, de repente o homem percebeu estar arrependido da surra que mandou darem no menino e culpou-se pelo ocorrido.
            Como ninguém de fora de estancia podia ficar sabendo da morte de escravo o estancieiro jogou o resto do corpo de Negrinho no leito de um rio que cruzava a sua propriedade e foi para casa descansar.
            Quando chegou em casa, o estancieiro encontrou seu filho morto na cozinha com uma faca atravessando seu coração. Em cima da mesa havia um bilhete que dizia: “A inveja mata, mesmo que sem motivos para que a mesma exista.”

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